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Por que é preciso criar programas de estágio para estudantes de baixa renda?

Afirmar que a empresa possui um ambiente acolhedor e políticas de diversidade não é suficiente, por exemplo.

Por Jéssica Gondim, Gerente de Projetos da Companhia de Estágios

Segundo um levantamento da Companhia de Estágios, Perfil dos estagiários e candidatos a estágio no Brasil 2024, 49% dos estagiários ou candidatos a vagas de estágio pertencem às classes D e E – ou seja, metade deles possuem baixa renda familiar mensal e 36% são responsáveis pelo pagamento da sua educação. Isto significa que estes estudantes vivem sob condições restritas, precisam contribuir com a renda familiar e enfrentam desafios para acessar recursos educacionais e oportunidades de desenvolvimento profissional.

Mas como incluir estes jovens nas oportunidades de estágio? Não basta dizer que a empresa tem um ambiente acolhedor e políticas voltadas à diversidade, por exemplo. Em algumas situações, reservar uma porcentagem do seu programa de estágio para a população de baixa renda pode ser insuficiente, considerando que se trata de um público mais vulnerável, que muitas vezes carece até de condições para arcar com os custos de transporte público para a realização de um processo seletivo presencial.

Um estudo do IPEA, Os Impactos Desiguais do Congestionamento Urbano no Acesso a Empregos, mostrou que nas cidades mais desiguais, como São Paulo e Belo Horizonte, a população mais pobre é entre três e onze vezes mais impactada pelos congestionamentos do que a população mais rica, o que a impede de acessar boa parte das oportunidades de emprego e estagna as possibilidades de ascensão social.

Esses dados evidenciam a necessidade de as empresas considerarem a logística e as despesas de deslocamento ao planejar programas de estágio específicos para a população de baixa renda. No caso, a ajuda de custo para transporte, por exemplo, deve ser integral para não excluir candidatos que não consigam arcar com esse custo, ou optar por um processo seletivo 100% online.

Candidatos que fazem parte de famílias de baixa renda, enfrentam barreiras significativas para acessar oportunidades de estágio e emprego. Por vezes, candidatos competentes são barrados por não terem tido a chance de estudar em instituições de prestígio ou aprender um segundo idioma. É importante que a empresa esteja disposta a buscar meios para priorizar o potencial dos candidatos.

Por isso, os programas de estágio que eliminam barreiras e oferecem capacitação técnica e suporte necessário, como equipamentos para home office e acesso à internet, são uma forma de alcançar todos os estudantes.

Tão importante quanto eliminar barreiras é criar caminhos. Neste sentido, vale lembrar que o estágio é a etapa profissional em que o objetivo central é a experiência e o aprendizado, sendo que, para os estagiários de baixa renda, as trilhas de desenvolvimento e treinamentos ganham importância maior.

É crucial que as empresas desenvolvam uma consciência interna sobre a importância da diversidade socioeconômica. Isso começa com a sensibilização das lideranças e supervisores, que devem estar alinhados com os objetivos de inclusão e equidade. Empresas que já praticam a equidade de gênero, por exemplo, têm um modelo a seguir: utilizar indicadores para demonstrar a importância da diversidade e como ela contribui para o crescimento organizacional. Com isso, as métricas e questionários são importantes para entender os perfis de colaboradores e como torná-los mais diversificados.

Assim sendo, é de suma importância que as empresas divulguem de maneira clara e transparente os objetivos e resultados de seus programas de estágio voltados para a população de baixa renda. Isso não só aumenta a confiança do público-alvo, mas também incentiva outras empresas a adotarem práticas similares.

A inclusão de indivíduos de baixa renda em programas de estágio não só promove justiça social, mas também traz benefícios tangíveis para as empresas. A diversidade de vivências e pontos de vista enriquece o ambiente de trabalho e promove inovação, criatividade e novas abordagens para resolução de problemas. O impacto social positivo gerado por essas iniciativas, por sua vez, é imensurável, contribuindo para a construção de uma sociedade mais digna, dentro da qual mais pessoas poderão desenvolver seu potencial.