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Banco Central diz que a crise atingiu o ponto mais "agudo"
Paula Andrade
"A crise financeira internacional atingiu o seu momento mais agudo." Assim definiu o diretor de política econômica do Banco Central, Mário Mesquita, antes mesmo de saber que o Congresso norte-americano rejeitou o pacote de ajuda aos bancos locais. Ontem o ministro da Fazenda Guido Mantega passou parte do dia reunido com o presidente Lula, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os ministros do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e da Agricultura, Reinhold Stephanes, quando foi feita uma análise de cada setor. Neste balanço, afirmou Mantega, o setor exportador está funcionando normalmente apesar de haver uma falta de crédito em dólar. "Mas o Banco Central está fazendo leilões para dar crédito em dólar", disse Mantega.
Durante entrevista pela manhã para detalhar o Relatório Trimestral de Inflação do BC, o diretor de política econômica do Banco Central, Mário Mesquita comentou o aumento das turbulências no dia de ontem e disse que é difícil fazer uma avaliação do quadro. Na opinião dele, o mercado tende a continuar volátil e os preços também. Antes de saber da não aprovação do pacote nos estados Unidos, Mesquita avaliou que a ajuda do Banco Central norte-americano tem relevância e a não aprovação poderia agravar ainda mais a situação. Segundo ele, o pacote do não resolve todos os problemas na economia norte-americana, mas é um passo importante nesse sentido. "Iniciativas extraordinárias refletem a seriedade da situação. A superação da fase mais aguda não quer dizer que no dia seguinte tudo volta a ser como era antes", disse.
Quanto às conseqüências da crise internacional no Brasil, para o diretor do BC a maior solidez da economia interna não faz com que o País seja imune, mas torna a situação melhor para que as condições de volatilidade sejam enfrentadas com calma e serenidade. Segundo ele, a tranqüilidade com que o BC brasileiro tem atuado é fruto da significativa melhora dos indicadores de vulnerabilidade externa, que deixam o Brasil em melhor situação para enfrentar a grave crise internacional. Ele citou como exemplo dados sobre redução da dívida externa e aumento das reservas internacionais, que hoje são suficientes para pagar três vezes o valor da dívida a vencer em 12 meses.
Contradição
Mesquita fez questão de dizer que não há contradição entre o aumento da taxa básica de juros (Selic) para conter o consumo e por conseqüência a inflação, e as medidas adotadas na última semana pelo Banco Central para permitir que bancos tenham mais recursos disponíveis para emprestar. Segundo ele, uma coisa é gestão de liquidez, visando manter o funcionamento do mercado interbancário, outra coisa é usar a taxa básica de juros como política monetária que atua sobre a atividade econômica. Ele citou o Banco Central europeu, que injetou recursos no mercado, mas decidiu elevar a taxa de juros.
Na última semana, depois do agravamento da crise financeira internacional, o BC adiou o recolhimento compulsório sobre os depósitos de empresas de leasing e ampliou de R$ 100 milhões para R$ 300 milhões a exigibilidade adicional para as instituições financeiras sobre depósitos a prazo, de poupança e recursos à vista. Com essa medida, analistas avaliaram que a autoridade monetária poderia deixar de elevar os juros básicos.
Contas externas
Mesquita disse que a queda do superávit da balança comercial "explica metade da deterioração da conta corrente". Ele afirmou que o aumento do envio de remessas de lucros e dividendos de empresas estrangeiras com sede no Brasil explica "a outra metade" da piora dos números. Mesquita chamou a atenção para o aumento do volume de remessas, que, na sua opinião, reflete a melhora da lucratividade de companhias no Brasil e a evolução do estoque de Investimentos Estrangeiros Diretos no País. Ele completou com a lembrança de que alguns setores têm enfrentado dificuldades no Hemisfério Norte. "Não surpreende que parcela significativa das remessas seja feita pelo setor automotivo e financeiro." Mesquita também comentou que a saída de lucros e dividendos está se tornando mais importante para o balanço de pagamentos que o gasto com juros. Essa mudança, segundo ele, é positiva porque lucros só existem conforme o ritmo da economia. Já a despesa com juros, citou, ocorre independentemente do cenário.
Para o diretor de Política Econômica do BC, o comportamento das últimas semanas da taxa de câmbio mostra "uma mudança na trajetória de apreciação do real". Esse movimento, segundo ele, é observado tanto na comparação da moeda brasileira frente ao dólar norte-americano, como diante do euro. Mesquita afirmou que a taxa de câmbio no Brasil "parece reagir menos ao risco País e mais ao comportamento das commodities". Mesquita informou também que a partir da próxima semana, o BC vai divulgar, todas as quartas-feiras, o movimento do mercado de câmbio.