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Automação do Due diligence acelera desintermediação do crédito
Especialistas estimam que o mercado de capitais vai ultrapassar os bancos e será responsável por mais de 50% da concessão em dez anos
O mercado de crédito brasileiro, tradicionalmente, sempre esteve concentrado nas mãos dos bancos, ao contrário de outros países desenvolvidos, onde o mercado de capitais tem uma participação muito mais relevante. Hoje, 76% do volume de crédito concedido no Brasil ocorre através de instituições financeiras, mas a perspectiva é de que este quadro mude ao longo dos próximos anos. Segundo a Ouro Preto Investimentos, em 10 anos, o mercado de capitais vai ultrapassar os bancos e será responsável por mais de 50% do crédito concedido.
A estimativa pode parecer até ousada, mas alguns fatores, além dos macroeconômicos e da popularização do mercado, explicam este movimento. E um dos principais é o uso intensivo de tecnologia. “O setor financeiro passa por transformações tecnológicas e legais, responsáveis pela transferência das operações de crédito dos bancos para o mercado de capitais”, afirma o CEO da Ouro Preto Investimentos, João Baptista Peixoto Neto. O crescimento da desintermediação já vem acontecendo de forma acelerada. Para se ter ideia, entre 2016 e setembro de 2023, a carteira de crédito nas mãos dos bancos cresceu 105,22%. No mesmo espaço de tempo a carteira sob gestão dos FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios) evoluiu 347%.
Dentre as tecnologias que impulsionam a desintermediação financeira, se destacam as ferramentas que facilitam o processo de análise de riscos jurídicos das empresas. “Realizar uma due diligence para saber se as garantias oferecidas pela empresa candidata a crédito são robustas, por exemplo, sempre foi um processo custoso, pois é preciso obter muitas certidões negativas para evitar o risco da garantia do empréstimo estar comprometida por determinado processo trabalhista ou fiscal contra a empresa”, explica Renata Soares, sócia-fundadora da Port Louis, empresa criadora da PortData, plataforma que automatiza o processo de auditoria jurídica.
Ela explica que o processo passa por identificar a existência de passivos jurídicos que possam impactar o valor de uma transação ou eventualmente inviabilizá-la. “Como a estrutura judiciária e fiscal no Brasil é muito fragmentada, este trabalho passa por levantar junto aos diferentes agentes certidões de que não existem apontamentos, ou seja, processos e inscrições em dívida ativa, as conhecidas certidões negativas. O primeiro desafio é então levantar as referidas certidões nos diversos emissores, cada um com seu próprio sistema, que demandam inputs e prazos distintos de retorno”, ressalta.
O processo feito manualmente se torna burocrático e custoso, além de ser passível de erros, o que, dependendo do valor da operação, pode inviabilizar a concessão do crédito via instrumentos do mercado de capitais. “Isso faz com que os agentes do mercado acabem priorizando empresas maiores que demandam um volume maior, pois, muitas vezes, o custo da estruturação da operação é maior que o crédito solicitado”, observa.
Após o levantamento das certidões, há que se analisar também a existência e a natureza de eventuais processos para avaliar o eventual impacto na captação de recursos.
A automatização dos processos é citada por Peixoto Neto como um dos impulsionadores das transformações do mercado. “A securitização de créditos é uma tendência irreversível (FIDC, CRI, CRA, CR). Está havendo uma revolução porque o crédito está deixando de depender dos bancos, um segmento econômico altamente concentrado, e passando para o mercado de capitais na forma pulverizada, que é uma característica desse mercado, e fruto de centenas ou milhares de iniciativas. Esse crédito, se for bem estruturado, terá também boas garantias e melhores rentabilidades para os investidores, apesar dos riscos associados a esse processo de desbancarização e pulverização”, afirma.
Com a tecnologia, o processo de obtenção das certidões negativas e eventuais apontamentos ocorrem de forma automatizada e estruturada, tornando a análise de risco menos dispendiosa, mais rápida e assertiva e, com mais segurança: o custo do crédito a ser concedido se torna menor viabilizando concessões de menor porte. “Due Diligence 5.0 oferece centralização para organização de documentos, além de velocidade e facilidade na realização de tarefas antes manuais e repetitivas, como o levantamento e leitura de certidões. Isso diminui o tempo despendido em cima de auditorias jurídicas que levam, muitas vezes, semanas ou até meses para serem concluídas, e possibilita que a equipe se dedique a análises mais importantes e efetivas para a entrega do parecer final ao cliente”, afirma Renata.