André Charone Tavares Lopes
É comum que, ao ouvir a palavra “contabilidade”, muitos associem este termo ao departamento contábil de uma empresa ou às práticas de escrituração e elaboração das demonstrações exercidas pelos contabilistas. Para os acadêmicos e profissionais especializados, entretanto, esse vocábulo assume um sentido ainda mais amplo, tornando-se também um sinônimo ou, até mesmo, um “apelido carinhoso” para as Ciências Contábeis, a ciência que tem por objeto de estudo o patrimônio das entidades e por objetivo transformar dados em informações úteis para a tomada de decisão de seus usuários, sejam internos ou externos. Ocorre que, de maneira lastimável, esse objetivo tão bem definido pelos grandes mestres da teoria da contabilidade acaba, na prática, entrando em conflito com uma realidade onde a contabilidade torna-se um mero instrumento para atender a exigências fiscais, especialmente nas micro e pequenas empresas. Enquanto na maioria dos países considerados desenvolvidos as informações geradas pela contabilidade nas empresas pequenas são voltadas para o empresário, no Brasil percebe-se um quadro no qual os procedimentos contábeis são realizados quase que exclusivamente para a prestação de contas com o Fisco. Muitas vezes essas informações geradas para o usuário externo em questão nem mesmo condizem com a realidade patrimonial, objetivando desonerar ilegalmente a empresa de suas obrigações tributárias (ou, em palavras mais simples e menos eufenistas: sonegar ou omitir receita). A questão é: Como pode um empresário tomar decisões sem ter conhecimento sobre sua real situação patrimonial, financeira e econômica? A resposta, caro leitor, é muito simples: Ele não pode, pelo menos não de maneira eficiente. Talvez a sorte ou até mesmo o perfil empreendedor e um bom feeling façam com que a empresa consiga sobreviver por algum período sem essas informações, mas a longo prazo essa escassez de conhecimentos básicos para a tomada de decisão poderá levar aquela entidade a se tornar mais um caso nas estatísticas de mortalidade de MPEs. Existe uma metáfora sobre a importância da contabilidade como ferramenta gerencial que compara uma empresa sem contabilidade à um barco perdido no meio do oceano e sem bússola. Eu não sei quem foi o autor desta translação, até mesmo por já ter-la lido em diversos artigos e livros de autores diferentes, mas seja quem for, foi bastante feliz ao fazer essa comparação. Afinal, o mercado é de fato um oceano (e bem tempestuoso, diga-se de passagem) e a empresa nunca saberá que direção seguir sem a “bússola” das informações contábeis. Dependendo do perfil do leitor que, eu espero, acompanhou atentamente esse texto, eu teria duas maneiras diferentes para concluí-lo, portanto peço licença às normas textuais para dar à este artigo não só um, mas sim duas conclusões diferentes: 1- Para os leitores empresários: Calma! Mesmo que a sua empresa não possua um sistema de contabilidade gerencial para lhe prover de informações para a tomada de decisões, não há motivo para se desesperar. Contate o seu contador e lhe diga que você deseja adotar um modelo contábil voltado para o suprimento de suas necessidades gerenciais e não somente para atender ao fisco. Se você conseguiu montar o seu empreendimento sem essas informações, imagine o quanto o seu negócio irá se desenvolver caso comece a utilizar a contabilidade gerencial em prol da sua gestão! 2- Para os leitores contabilistas: Está na hora de retomarmos aquela contabilidade que nos foi ensinada ainda na academia e aperfeiçoada pela experiência profissional. Vamos resgatar nas micro e pequenas empresas a verdadeira função do nosso trabalho, o nosso papel como prestadores de informações. Com certeza é importante atender à exigências do Fisco (especialmente em um país com tamanha fome tributária quanto o nosso), mas devemos ter em mente que podemos agregar muito mais valor à empresa fornecendo base decisórial através das informações geradas pelas demonstrações e relatórios, adequados ao usuário que pretendemos alcançar. Mãos à obra!